BHAGAVAD GÎTÂ



0 Bhagavad Gitâ, isto è, A Sublime Canção, também designada como a Canção do Senhor ou a Mensagem do Mestre, é uma das obras mais importantes que existem no mundo. Este livro é altamente prezado pelos budistas e venerado como Escritura Sagrada pelos brâmanes, que, frequentemente, o citam como autoridade no que se refere à religião hindu. A filosofia nele exposta é um conjunto harmonioso das doutrinas de Patan-jali, Kapila e dos Vedas.

0 Bhavagad Gîtâ é um episódio da grande e antiga epopéia hindu, intitulada Mahâbhârata , que contém 250.000 versos, descrevendo a grande guerra entre os Kurus e os Pândnvas, que tinha por objetivo a posse de Hastinapttra, um dos centros mais importantes da civilização ariana. Em sua forma literal, apresenta o Bhagavad Gîtâ um interessante diálogo entre Krishna e Arjuna, tratando de um fato histórico; mas os Mestres hindus dizem que este livro maravilhoso tem sete sentidos, e aconselham ao leitor esforçar-se por penetrar no seu mais profundo sentido interior ou espiritual.

A leitura desta Sublime Canção é útil para todos: cada um, porém, poderá assimilar e compreender só aquilo que estiver em harmonia com o desenvolvimento de suas faculdades psíquicas e espirituais.

A nossa tradução, baseando-se na edição inglesa do Yogi Ramacháraca, comparada com a edição em sânscrito e latim, publicada por Aug. Guilh. vou Schlegel, e com a edição alemã do Dr. Franz Hartmann, tem por fim auxiliar os leitores nesse desenvolvimento, a que todo o ser pensante deve dedicar a sua vida. Não podemos desvendar totalmente o sentido esotérico deste precioso livro, porque — conforme as leis da natureza superior — cada um há de descobri-lo por si mesmo; acrescentamos, entretanto, notas e observações que serão úteis para aqueles que aspiram à Iniciação.

A cena da ação histórica do Bhagavad Gîtâ transporta-nos à planície da Índia, entre os rios Jumma e Sarsuti, atualmente conhecidos como Kurul e Jheed. Na capital do país, chamada Hastinapura, reinava, em tempos remotos, o rei Vichitraviría. Casou-se com duas irmãs, mas faleceu sem deixar filhos. Conforme o costume dos antigos povos orientais, Vyâsa, irmão do falecido, tomou essas viúvas por esposas e teve delas dois filhos: Dhritarâshtra e Pându. Dhritarâshtra, o mais velho, gerou cem filhos (simbólicos) dos quais o primogênito chamava-se Duryôdhana. 0 mais môço, Pându, teve cinco filhos, todos grandes guerreiros, conhecidos como os cinco principais Pândavas. Dhritarâshtra perdeu a vista, e continuou a ser rei só nominalmente, entregando o poder real a seu filho Duryôdhana. Êste, com o consentimento do pai, baniu do pais os cinco filhos de Pându, seus primos, os quais, porém, depois de muitas vicissitudes, viagens e aventuras, voltaram à sua terra natal, acompanhados de muitos amigos e partidários, e formaram um poderoso exército aproveitando os guerreiros que lhes forneceram os reis vizinhos.

Com as suas fôrças, marcharam para o campo dos Kurus, empreendendo uma campanha contra o ramo mais velho da família, os partidários de Dhritarâshtra, os quais se reuniram sob o comando de Duryôdhana, que substituía o seu pai cego; e, em nome da família dos Kurus, começou o ramo mais velho a opôr resistência à invasão e aos ataques dos Pândavas.

O Bhagavad Gîtâ apresenta-nos esses dois exércitos, preparados para o combate. O comando ativo dos Kurus, cujo chefe é Duryôdhana, está nas mãos do velho general Bhishma, ao passo que o supremo comando dos Pândavas é o famoso guerreiro Bhima. Arjuna, um dos cinco príncipes Pândavas e um dos principais caracteres desta história, estava presente, ao lado de seus irmãos, e acompanhado em seu carro de guerra por Krishna, reputado pelos hindus como encarnação humana do Espírito Supremo.

Krishna, amigo e companheiro de Arjuna, a quem amava por causa de sua nobre alma e a resignação, com que êste suportava as perseguições. A batalha começou, quando Bhishma, o comandante dos Kurus, deu o sinal, tocando a sua cometa ou concha, sendo seu toque imitado pelos seus partidários, e respondido pelos Pândavas.

Arjuna pediu a Krishna, ao princípio da batalha, que deixasse parar o carro no meio do espaço entre os dois exércitos inimigos, para ver de perto as principais pessoas que tomavam parte na luta. Vendo, então, seus parentes e amigos, tanto de um como do outro lado, ficou horrorizado por constatar que se tratava de uma guerra fradicida, e declarou a Krishna que antes queria morrer iner-me e sem se defender, do que matar seus parentes. Krishna respondeu-lhe com um notável discurso filosófico que forma a maior parte do Bhagavad Gîtâ, fazendo Arjuna reconhecer a necessidade dessa luta, em que êle e os seus partidários, finalmente, alcançariam completa vitória sobre os Kurus.

O autor põe a narração de tudo isso na boca de Sanjaya, fiel servidor do rei cego, Dhritarâshtra. Como já dissemos, além do sentido histórico, material ou literal, tem o Bhagavad Gîtâ (como tôda Escritura Sagrada: a Bíblia, os Vedas, o Corão, etc), ainda vários graus do sentido espiritual ou esotérico; e para que os nossos leitores possam, com facilidade, descobri-lo, lhes diremos que a luta aqui descrita é a que se trava no interior de cada homem, entre o "Bem" e o "Mal". Arjuna, o Homem, acha-se colocado no campo de suas ações, entre dois exércitos inimigos, dos quais os Pândavas representam as forças superiores, e os Kurus, as fôrças inferiores da alma. Ali está Arjuna, o filho de Kunti (isto é, da Alma) contra os seus parentes, os filhos de Dhritarâshtra (Vida material) ameaçado pelo Egoísmo, pelos seus prazeres e pelas suas paixões, que formam um poderoso exército de ilusões: a sua tarefa é vencê-las, para chegar ao conhecimento de sua verdadeira essência divina. Mas, como muitas dessas ilusões se lhe tomaram agradáveis, acha difícil combatê-las. A seu lado, entretanto, tem valentes guerreiros: a sua Consciência, o Amor do Bem e da Verdade, a Obediência à Lei Suprema, a Fé, a Convicção, etc.

Krishna, que lhe explica a verdadeira natureza humana e a sua relação com Deus, é o Verbo de Deus, Logos ou Cristo em nós, o nosso superior,
imortal Ego Divino.









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